A cada novo dia, uma nova espença. A cada nova esperança, um romper da alvorada. Bem vindo!!!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Vinícius de Moraes

A Vida Vivida

Quem sou senão um grande sonho obscuro em face do sonho
Senão uma grande angústia obscura em face da Angústia 
Quem sou eu senão a imponderável árvore dentro da noite imóvel
E cujas as presas remontam ao mais triste  fundo da terra?

De que venho senão da eterna caminhada de uma sombra
Que se destroí à presença das fortes claridades
Mas em cujo rastro indelével repousa a face do mistério
E cuja forma é a prodigiosa treva informe?

Que destino é o meu senão o de assistir ao meu Destino
Rio que sou em busca do mar que me apavora
Alma que sou clamando o desfalecimento
Carne que sou no âmago inútil da prece?

O que é a mulher em mim senão o Túmulo
O branco marco da minha rota peregrina
Aquela em cujos braços vou caminhando para a morte
Mas em cujos braços somente tenho vida?

O que é o meu Amor, ai de mim! senão a luz impossível
Senão a estrela parada num oceano de melancolia
O que me diz ele senão que é vã toda palavra
Que não repousa no seio trágico do abismo?
 
O que é o meu Amor? senão o meu desejo iluminado
O meu infinito desejo do ser o que sou acima de mim mesmo
O meu eterno partir na minha vontade enorme de ficar
Peregrino, peregrino de um instante, peregrino de todos os instantes?

A quem respondo senão a ecos, a solução, a lamentos
De vozes que morrem no fundo do meu prazer ou do meu tédio
A quem falo senão a multidões de símbolos errantes
Cuja tragédia efêmera nenhum espírito imagina?

Qual é o meu ideal senão fazer do céu poderoso a Língua
Da nuvem a Palavra imortal cheia de segredo
E do fundo do inferno delirantemente proclamá-los
Em Poesia que se derrame como sol ou como chuva?

O que é meu ideal senão o Supremo Impossível
Aquele que é, só ele, o meu cuidado e meu anelo
O que é ele em mim senão o meu desejo de encontrá-lo
E o encontrado, o meu medo de não o reconhecer?

O que sou eu senão Ele, o Deus em sofrimento
O  tremor imperceptível na voz portentosa do vento
O bater insensível de um coração no descampado...
O que sou eu senão Eu Mesmo em face de mim?

Soneto da Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tanto zelo, e sempre e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encanta mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Invertendo as Perspectivas





“O Amor Jamais é Feio"



Cresci acreditando ser eu a desempenhar o papel de Fera, do meu conto de Fadas favorito.
A beleza sempre foi um conceito muito forte em minha vida, eu querendo ou não! Quando eu era pré-adolescente me deram a honra de ser nomeada como a garota mais feia da escola – particularmente sempre achei injusto esse apelido, pois eu nunca fui nenhuma monstruosidade. Por isso passei e ainda passo muito tempo de minha vida refletindo sobre a beleza.
Os contos de fadas sempre têm uma coisa realmente bonita e verdadeira a nos contar, pena que não vemos com olhar critico ou ao menos inocente como quando éramos crianças e ao crescer achamos besteira e historinha de garota boba.
Pois bem, declaro-me uma amante de histórias de amor, e ao me avaliar vejo que histórias envolvendo feiúra e amor são as mais especiais para mim, só que sempre eu me via como a parte feia da história. Desta forma como nos contos sempre esperei um garoto mega bonito se apaixonar por mim e enxergar a minha verdadeira beleza, a que vem do caráter e não a de fora que é tão subjetiva e passageira.
Mas de vez em quando me pegava pensando se eu era capaz de amar alguém que é julgado feio, porque é fácil ser apresentada como a namorada do garoto mais lindo do pedaço e ao contrário para o mais feio. Perguntava-me: Se meu amor sofrer um acidente e ficar deformado, eu o amarei da mesma forma? E se um garoto mutilado quisesse sair comigo, eu sairia? Parecem cruéis esses pensamentos, mas eles são reais e todos nós sabemos que sempre olhamos primeiro para aparência e vemos o conteúdo depois, isso me lembra o filme “O Amor é Cego” em que Hall só vê as pessoas como elas são por dentro, seria bom ter essa visão.
Porém a vida é muito brincalhona e nos últimos tempos ela me deu uma rasteira e inverteu as perspectivas. Conheci um garoto, ele não é bonito, e ironicamente parece ser meu príncipe encantado. Ele é engraçado, esperto, se importa comigo e tralálá... E pela primeira vez ele me fez ver como as pessoas me enxergam: uma garota linda! Isso desestruturou meu mundo, de repente de Fera passo assumir o papel de Bela.
É uma experiência totalmente nova para mim. Ser preconceituosa não faz parte de meus defeitos, mas me vi hesitando à situação. Porque agora eu sou a Bela (será que eu sou tão digna?), que encara o que há dentro daquele cara e se apaixona por ele, o que de verdade não acho difícil, porque é tão fácil amar pessoas legais, é tão natural!
Descobri que vendo tantos relacionamentos de fachadas e os namorados com beleza razoável, acabei associando a beleza com o real sentimento. Não é culpa minha, são valores que estou tentando mudar!
Mesmo assim a Fera sempre foi bela aos meus olhos e sempre admirei um amor tão lindo e puro.
O problema não é o garoto, sou eu que sempre me vi tão depreciada e conforme fui mudando me tornei outra.
Adoraria entrar num relacionamento tão lindo.
Sempre quis um amor desses, acho que Deus me atendeu!